Início Nova História Mar Verde, 1970: quando Portugal conquistou a capital da Guiné

Mar Verde, 1970: quando Portugal conquistou a capital da Guiné

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A operação mar verde foi provavelmente, a mais ousada operação das forças armadas portuguesas no teatro de guerra em África, durante a guerra do ultramar.

A operação militar ainda hoje é bastante desconhecida devido ao seu enorme secretismo e também devido ao facto da documentação oficial relativa ao plano, ter sido praticamente toda destruída. Esta operação ainda hoje não é reconhecida pelo Estado Português.

Durante a guerra do ultramar em África, a situação mais complexa era na Guiné-Bissau. Em Angola e Moçambique, principalmente a partir de 1970, os movimentos pró-independência encontravam-se em retirada e a fraquejar perante o avanço das tropas portuguesas. Na Guiné-Bissau a situação era mais complexa, devido essencialmente às condições adversas do terreno e de logística, além de outros factores.

Um desses outros factores, é que as forças independentistas da Guiné-Bissau denominadas de PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) para além do apoio cubano, da URSS e da Ex-Jugoslávia (Angola e Moçambique também tinham o mesmo apoio), tinham um apoio muito forte do país vizinho, a Guiné-Conacri. As forças do PAIGC atacavam as forças portuguesas na Guiné-Bissau e depois refugiavam-se no país vizinho, a Guiné-Conacri, onde tinham inclusive inúmeras bases militares, fora do alcance das forças portuguesas. Para além disto, prisioneiros de guerra portugueses encontravam-se detidos em instalações prisionais na Guiné-Conacri.

As forças armadas portuguesas traçam então um auspicioso plano. Ao arrepio de das leis internacionais, planeiam invadir a Guiné-Conacri em segredo e provocar um golpe de Estado, depondo o líder ditador Sékou Touré, forte apoiante do PAIGC. Planeavam ainda libertar as tropas portuguesas aprisionadas naquele país.

Para conseguir tal feito, as forças armadas portuguesas treinam duramente na Guiné-Bissau juntamente com tropas da Guiné-Conacri, mas estes são opositores do regime de Sékou Touré. A ideia era irem junto com os portugueses. As tropas da Guiné-Conacri a treinar com os portugueses denominavam-se de FLNG (Front de Libération Nationale Guinéen).

O plano tinha vários objectivos, sendo que fica impossível detalhar cada um deles por aqui.

Após a invasão nocturna, acontecem duros combates dignos de uma enorme coragem (os portugueses tem 3 baixas e ao inimigo infligem mais de quinhentas), os prisioneiros de guerra portugueses são resgatados para além de outros presos políticos. Não conseguem o golpe de Estado, essencialmente porque falham na toma do controlo da rádio estatal daquele país.

As forças do PAIGC juntam-se ao exército da Guiné-Conacri e combatem durante vários dias as tropas portuguesas e os revoltosos da Guiné-Conacri.

A operação termina sem o golpe de Estado, (Sékou Touré não se encontrava no palácio imperial, que era um dos objectivos das tropas lusas e que foi atacado) e as forças armadas regressam à Guiné-Bissau, com metade da missão cumprida, pois traziam os prisioneiros, mas não tinham conseguido executar o golpe de Estado.

Diga-se de passagem duas coisas. Sékou Touré aproveitando a onda do ataque e após se refazer dele, elimina vários opositores políticos, pendurando-os em pontes ou árvores. Degola outros tantos militares opositores do regime que inclusivé se tinham rendido durante os combates.
A segunda coisa a referir é que as forças armadas portuguesas durante a guerra na Guiné-Bissau e a partir de 1970, eram constituídas na sua maioria por africanos Guineenses que apoiavam a causa Lusa.

A partir do dia da tentativa falhada de golpe de Estado, Sékou Touré declara o dia feriado nacional. As forças armadas portuguesas depois deste golpe, ganham um enorme respeito militar em África, pela ousadia e pela coragem demonstrada.

Cristiano Santos

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