Memórias do poder português no Mediterrâneo: Portugal na Líbia, 1799

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No Século XVIII estados magrebinos como Tunis, Argel e Tripoli estavam verdadeiramente infestados de corsários cujos temerários navios, os ágeis chavecos sistematicamente atacavam navios de comércio no Mediterrâneo e inclusive no Atlântico

Nações como os Estados Unidos, Espanha e Suécia aquiesciam então pagar avultadas somas aos Beis daqueles estados Barbarescos afim de pouparem as suas embarcações de comércio a tais saques

Um dos poucos países que alternativamente, optava por defender o seu comércio graças á ação da sua Marinha de Guerra, era Portugal cuja esquadra do Estreito de Gibraltar suscitava então um efetivo temor entre aqueles povos

Em 3 de Abril de 1799 a nau Portuguesa Afonso de Albuquerque foi enviada a Tripoli na Líbia onde chegou a 6 de Maio desse mesmo ano incumbida da missão de forçar o Bei da cidade a assinar uma trégua com Portugal, substituir o Capitão do porto de Tripoli, destruir os navios Franceses (então também inimigos dos Portugueses) que eventualmente lá se pudessem encontrar e a entregar os Franceses que lá vivessem.

À chegada fundearam diante de Tripoli tendo os Portugueses constatado que não se encontrava qualquer navio Francês no porto, pelo que iniciaram as negociações com o Bei de Tripoli, tendo este numa primeira fase acedido a todas as exigências dos Portugueses.

Contudo, passados alguns dias, o Bei reconsiderou e recusou-se a entregar aos Portugueses os Franceses que viviam em Tripoli.

Os Portugueses responderam ameaçando que caso a suas exigências não fossem acatadas então bloqueariam o porto, tendo consequentemente estipulado um prazo de 14 horas para receber a decisão do Bei.

Entretanto durante tal prazo Tripoli foi acometida por um temporal que forçou a nau Portuguesa a fazer-se ao largo.

Findo o temporal a Afonso Albuquerque reaproximou-se de Tripoli tendo fundeado novamente diante da cidade.

Durante os dias em que nau Portuguesa se havia mantido afastada de Tripoli afim de se proteger do temporal, uma polaca de guerra Tripolitana com 18 peças e 150 homens de guarnição havia entrado no porto e fundeado no seu interior num local onde a nau Portuguesa devido ao seu calado não poderia lá chegar.

Embora a ideia inicial fosse a de persuadir os Tripolitanos a aceder aos intentos dos Portugueses somente por via da imposição de um bloqueio ao porto, os Portugueses depreenderam contudo após a chegada da polaca de guerra que seria útil efectuar uma demonstração de força a fim de obrigar o Bei a ceder, pelo que decidiram entrar no porto, tomar a polaca e eventualmente atacar os que se encontravam em terra.

O ataque foi liderado por José Maria de Almeida que comandando uma lancha e três escaleres da nau armados em guerra entraram no interior do porto debaixo de fogo proveniente da polaca de guerra e dos fortes de terra.

Um primeiro escaler comandado por Miguel José de Oliveira Pinto atracou á polaca abordando-a, no entanto os Tripolitanos apercebendo-se da abordagem cortaram as amarras da embarcação para que esta fôsse empurrada pela ondulação afim de encalhar na praia e assim beneficiar da ajuda dos seus compatriotas armados que se encontravam em terra.

Para agravar a situação a boça do escaler onde ainda se encontravam alguns Portugueses que ainda não haviam saltado para o interior da polaca de guerra inimiga, partiu-se tendo sido arrastado pela ondulação para a praia onde encalhou e onde foi imediatamente atacado pelos Tripolitanos que lá se encontravam.

Vendo isto, José Maria de Almeida mandou que um segundo escaler comandado por Alexandre Luís de Sousa Malheiros abordasse a polaca afim de auxiliar os Portugueses que no seu interior ainda se encontravam lutando afim de se apoderarem desta enquanto ele próprio dirigiu-se com a lancha para a praia afim de socorrer os Portugueses do escaler encalhado que lá lutavam com os Tripolitanos.

Os Portugueses tomaram definitivamente a polaca cujos canhões usaram para imediatamente fustigar o inimigo que se encontrava em terra a atacar os outros Portugueses do escaler encalhado e da lancha que numa situação crítica lá se encontravam lutando em inferioridade numérica.

Graças ao ataque de artilharia da polaca agora controlada pelos Portugueses bem como pela da nau Afonso de Albuquerque que entretanto aproximara-se mais do local do combate e da ajuda da lancha de José Maria de Almeida, os Portugueses conseguiram rebocar o escaler que havia encalhado e regressar à nau juntamente com os Portugueses que evacuaram a polaca depois de a porem em fogo por esta ter entretanto também encalhado e não ter sido possível rebocá-la visto ter quedado bem presa no fundo.

No dia seguinte, a nau Portuguesa Afonso de Albuquerque que entretanto iniciou o bloqueio a Tripoli, capturou uma fragata Tripolitana que havia tentado entrar no porto.

Os Portugueses levantaram ferro e abandonaram Tripoli no dia 20 de Maio de 1799 somente após o Bei de Tripoli receando a ruína da sua cidade em virtude do bloqueio que entretanto havia sido imposto pelos Portugueses, se ter submetido à totalidade das exigências de Lisboa. Seria uma das últimas intervenções militares de grande dimensão por Portugal no Mediterrâneo.

Do nosso colaborador “Portuguese Legacy”

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