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Quando Portugal era recebido com pompas na Cidade Proibida

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A embaixada de D. João V ao imperador Yongzheng da China, encabeçada por Alexandre Metelo de Sousa e Meneses, saiu de Macau para Cantão, dali partindo para Pequim, onde chegou em luzidio cortejo de trezentos pessoas em Maio de 1727. “Ia adiante a barca capitânia levando sempre, ancorado, o estandarte [verde] e armas del-Rei Nosso Senhor e desta maneira atravessaram todo este grande império até chegar a Pequim. Levava mais uma bandeira amarela ao uso da China [a qual dizia] este é o Embaixador del-Rei de Portugal que vem dar os parabéns ao Imperador da China. Consentir esta nação que não pusesse nesta bandeira a palavra Cim Cum, que quer dizer tributo, foi a maior vitória que da sua soberba podia alcançar (…)” . Entregues as credenciais ao Imperador, que em Metelo de Sousa viu “homem agradável, político e cortês, muito diferente dos mais que cá têm vindo” (1) , que seria clara alusão aos holandeses, iniciou-se a ronda de encontros entre as partes.
Na audiência de despedida que o Imperador concedeu à missão portuguesa, o Embaixador solicitou de Yongzheng que favorecesse os moradores de Macau. Desta diligência resultou maior solicitude dos mandarins de Cantão em relação a Macau, que Metelo de Sousa logo registou ao regressar antes do regresso à Europa. Um especial favor imperial traduziu-se no envio de carta do imperador a D. João V, “coisa muito nov[a] para os imperadores da China, porque estes não costumam usar de termos e letras tão corteses e de tanta igualdade para os outros monarcas, como as desta carta” . Ao regressar a Portugal no término da sua jornada pelo Oriente, Metelo de Sousa e Meneses poderia ufanar-se de haver cumprido os objetivos ordenados pelo seu rei e do desempenho da sua embaixada ter sido bem mais fácil que as missões britânicas que, em 1793 e 1816 – missões de Lord Macartney a Gianlong e de Lord Amherst a Jiaqing – conseguiram chegar à Cidade Proibida. Lord Macartney afirmaria ter visto o “Rei Salomão no seu trono”; quando a Lord Amherst, foi recebido com absoluto desdém.

(1) Relação da Embaixada e do que por respeito dela sucedeu que El-rei Nosso Senhor D. João V no ano de 1725 mandou ao imperador da Tartária e China cujo reinado era Yung Ching, da autoria do Padre Xavier da Rua, BA, in Cod. 51-IX-12, p. 14.

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